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Índia. Jesuíta detido por defender direitos dos povos indígenas

Índia. Jesuíta detido por defender direitos dos povos indígenas
NurPhoto / GETTY IMAGES

O padre de 83 anos foi detido a 8 de outubro por uma brigada anti-terrorista, sendo acusado de ligações a grupos maoístas

Stan Swamy tem 83 anos, é um sacerdote jesuíta indiano e foi detido pela brigada anti-terrorista (National Investigation Agency - NIA) do seu país a 8 de outubro. O padre tem trabalhado, ao longo de meio século, na defesa dos direitos dos povos indígenas, nomeadamente junto da comunidade aborígene de adivasis, uma minoria étnica vulnerável e não inserida na lógica de castas. Conhecido como um defensor dos direitos humanos, acabou por ser preso por alegadas ligações a grupos maoístas, das quais se diz inocente. A Companhia de Jesus exige a sua “libertação imediata”.

A detenção ocorreu na residência da Companhia de Jesus, localizada na periferia de Ranchi, no Estado de Jharkhand, na zona oriental da Índia. Desde o momento em que foi levado pelas autoridades e durante uma semana, o padre Stan Swamy foi forçado a dormir no chão, estando em quarentena e quase impedido de contactar com o exterior. “Deixaram-no praticamente incontactável. Pode fazer uma chamada por semana. Até ontem à tarde, ainda não tinha entrado em contacto com os seus advogados e não teve qualquer tipo de apoio jurídico”, conta o padre José Maria Brito, porta-voz da Companhia de Jesus, em declarações ao Expresso.

A situação é ainda mais preocupante devido ao estado de saúde do jesuíta. “Está num estado de saúde muito débil e precisa inclusivamente de apoio para conseguir comer. Essa é uma das grandes preocupações que temos”, frisou José Maria Brito.

O porta-voz explica que este “não é um caso isolado” e que “é já o 16.º ativista preso na sequência deste tipo de procedimentos e de investigações, feitas de uma forma mais ou menos arbitrária”. O sacerdote “estava a ser investigado desde o verão” e a detenção “não foi surpreendente para ele”, uma vez que “estava mais ou menos à espera de que isto pudesse acontecer”, conta o padre José Maria Brito. Durante julho e agosto, o jesuíta foi interrogado várias vezes durante mais de 15 horas pela brigada anti-terrorista.

Dois dias antes de ter sido preso, Stan Swamy fez uma declaração em vídeo em que referiu: “O que me está a acontecer não é um caso isolado. Todos temos consciência de que muitos ativistas, advogados, escritores, jornalistas, líderes estudantis, poetas, intelectuais, e outros que defendem os direitos dos adivasis, dos dalits e dos marginalizados e expressam a sua discordância com as autoridades políticas do país estão debaixo de mira e a ser colocados na prisão”.

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O porta-voz da Companhia de Jesus descreve Stan Swamy como “uma pessoa que em toda a sua vida manteve um perfil pacifista, de não-violência, sempre na defesa de métodos de luta pela justiça e que, de repente, é preso por uma brigada anti-terrorista”. O jesuíta, enaltece José Mário Brito, “nunca esteve envolvido em nenhuma questão de violência, tendo sido associado a grupos maoístas que nem estão ligados a esta causa”.

Mas que luta pacífica é esta, afinal, que levou à detenção do sacerdote? “Os adivasis são uma minoria, creio que correspondem a 8% da população, o que os torna mais vulneráveis e nem sequer estão inseridos na lógica de castas”, contextualiza o porta-voz da Companhia de Jesus. “São povos indígenas que habitam zonas rurais que, a certa altura, pela questão da exploração de minérios, são terrenos que se tornam muito atrativos. Os processos de expropriação são bastante arbitrários, prejudicando as pessoas, não lhes dando meios de sobrevivência alternativos”, detalha.

E o que levou as autoridades a considerarem este jesuíta perigoso? “Ao acompanhar estas populações, no fundo, o que fizeram foi um processo de consciencialização dos seus direitos. Inclusivamente, o padre Stan Swamy apresentou no tribunal uma ação pública em favor de 3.000 jovens que estavam presos”, narra José Mário Brito.

Numa carta aberta, datada de 9 de outubro, o presidente da Conferência Jesuíta da Ásia do Sul, exigiu a libertação imediata do pároco: “Estamos chocados e consternados ao tomar conhecimento que o padre Stan Swamy, que tem trabalhado toda a sua vida pela dignificação dos oprimidos e de outras pessoas vulneráveis, foi detido sob custódia do NIA”, afirmou George Pattery.

Já o responsável pelo secretariado da Justiça Social e Ecologia da Companhia de Jesus, Xavier Jeyaraj, expressou, a partir de Roma, solidariedade com este jesuíta com o qual trabalhou ao longo de vários anos: “Apelamos às autoridades que se abstenham de detenções arbitrárias de cidadãos inocentes e cumpridores da lei”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: amcorreia@expresso.impresa.pt

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